“Devia de ter calçado outros ténis”
Este era o meu pensamento enquanto dançava animada e sorridente a música do Nemanus que a banda tocava.
Sábado à noite e não há programa melhor que as festas da aldeia.
O meu filho chega pela décima vez ao pé de mim e implora para que lhe compre um dos brinquedo que estão á venda na entrada.
Sorrio-lhe e digo educadamente (outra vez) que não, e ele, deseducadamente, bate o pé e diz que quer.
Com 3 pessoas a aperceberem se da birra que está para vir, sorrio-lhe e peço, poor favor, que vá brincar. Ele sem favor, diz me que não e não agarrando-se a mim.
“devia de ter calçado outros ténis”
O meu marido, apercebendo se dá situação, diz lhe de voz rígida que se não for brincar que vamos para casa.
Estamos a meio do medly de Tony Carreira.
Tenho o meu filho a chorar agarrado a mim e o o meu marido está com um ar sério e contrariado por ali estar.
Como uma boa fã do Tony que sou, sorrio, canto e danço abraçando o meu filho na esperança que ele se esqueça do brinquedo.
“devia ter calçado outros ténis”
Os nossos colegas chamam por nós do bar.
Vai o meu marido à frente. Eu, segui-lo com o meu filho agarrada à minha perna.
Com as unhas nas minhas meias, o inevitável acontece: a banda começa a tocar a valsa.
(ah e o meu filho raga-me as meias. Mesmo à frente e eu de vestido)
“-são 3 águas naturais por favor. “
“-mãe porque é que eu não posso o brinquedo? Eu comi tudo – diz “
Eu devia ter calçado outros ténis
-obrigada. Sorriso
(continuo a sorrir)
-porque o papá já disse que não amor, bebe um bocadinho da tua água.
Naquele momento estava a banda, a pedir para pôr a mão na cabecinha e depois na cinturinha, para pôr mão lá na perninha e “vai a cima e vai à baixo” – eu como sou bem mandada fiz o que pediram. Tentei fazer o meu filho entrar na dança. Sem sucesso.
Devia ter calçado outros ténis
Veio o tango e naturalmente parei com o entusiasmo.
“tas com essa cara porquê ?
” que cara?
“queres ir dançar?
” agora não me. Apetece muito quando for uma kizomba.
“se é para isto não sei porque viemos? O menino a fazer birra. Tu mal disposta.”
” Podemos ir para casa se quiserem. – digo sorrindo.
Ao som de Emanuel, com os meu filho a fazer uma birra gigante, com o meu marido chateado eu com as meias rasgadas e um frio desgraçado, foi quando eu disse para mim:
“merda. Eu nunca mais calço estes ténis”